terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Atenas investiga corrupção: Kantas e o Ministério da Defesa da Grécia

Por SUZANNE DALEY
ATENAS - Quando Antonis Kantas, vice-diretor no Ministério da Defesa da Grécia, falou abertamente contra a compra de dispendiosos tanques alemães, em 2001, um representante da fábrica passou por seu gabinete para deixar uma sacola. Continha € 600 mil, cerca de US$ 814 mil. Outros fabricantes de armamentos apareceram também, alguns se oferecendo para guiá-lo pelos meandros do sistema financeiro internacional e o recompensando com depósitos em contas no exterior.
Na época, Kantas, um ex-oficial militar, não tinha autoridade para decidir muita coisa por conta própria. Mas a corrupção era tão disseminada dentro do Ministério da Defesa que mesmo um homem com uma posição modesta como a sua, segundo um depoimento recente dele, foi capaz de acumular quase US$ 19 milhões em apenas cinco anos no cargo.
Os gregos estão calejados de tanto ouvir histórias de corrupção. Mas, mesmo assim, ficaram paralisados diante das confissões de Kantas desde sua recente prisão por acusações que incluem lavagem de dinheiro e comportamento prejudicial à nação.
Nunca antes um alto funcionário tinha exposto tão amplamente o sistema de compensações oferecidas por serviços dentro de um ministério grego. Kantas disse aos promotores que havia recebido tantos subornos que não era possível lembrar os detalhes.
A confissão de Kantas, estimulada por sua esperança de que obteria maior indulgência da Justiça se contasse tudo, com base em uma nova lei, fez com que muitos gregos ficassem esperançosos de que finalmente testemunhariam o começo do fim da corrupção ilimitada que contribuiu para mergulhar a Grécia em sua crise atual.
No entanto, à medida que os detalhes emergem, o caso alimenta uma indignação ainda maior, especialmente em relação à Alemanha, que repreendeu a Grécia pelo caos financeiro em que se encontra. O depoimento de Kantas, se verídico, mostra como fabricantes de armas da Alemanha, França, Suécia e Rússia entregavam propinas para vender ao governo armamentos que o país mal tinha condições de pagar e que, dizem especialistas, em muitos casos estavam superfaturados e abaixo do padrão de qualidade.
Os € 600 mil compraram o silêncio de Kantas sobre os tanques, que foram classificados como de pouco valor, de acordo com Constantinos Fraggos, especialista em questões militares gregas. A Grécia adquiriu 170 desses tanques por cerca de US$ 2,3 bilhões.
Contribuindo para o absurdo dessa aquisição (feita quase totalmente a crédito), o ministério não comprou praticamente nenhuma munição para as armas, disse Fraggos. Adquiriu ainda aviões de combate sem sistemas de orientação e pagou mais de US$ 4 bilhões por submarinos que hoje estão praticamente abandonados. No auge da crise, quando não estava claro se a Grécia seria expelida da zona do euro, e bem antes de os submarinos terem sido concluídos, o Parlamento grego aprovou um pagamento final de US$ 407 milhões pelos submarinos alemães.
"Em primeiro lugar, você tem de culpar o sistema podre da Grécia", disse Fraggos. "Mas os vendedores têm grande parte nisso. Eles subornavam autoridades e emprestavam dinheiro para um país quase falido, para assim poderem vender seus produtos."
Na esteira do primeiro depoimento de Kantas, em dezembro, promotores efetuaram mais prisões, incluindo a de um subempreiteiro no negócio do submarino alemão, que forneceu à Justiça detalhes de contas que usou para transferir cerca de US$ 95 milhões em pagamentos "úteis".
Algumas empresas citadas por Kantas haviam sido condenadas em outros casos de suborno. Mas outras alegam que não fizeram nada de errado. A Krauss-Maffei Wegmann, fabricante dos tanques, diz estar examinando o caso.
Mas a polícia acredita que Kantas sabe mais e pode ter mais dinheiro guardado. "Ele não nos falou nada que já não soubéssemos", disse um investigador. "Ele tem de nos contar o resto."
Por SUZANNE DALEY
ATENAS - Quando Antonis Kantas, vice-diretor no Ministério da Defesa da Grécia, falou abertamente contra a compra de dispendiosos tanques alemães, em 2001, um representante da fábrica passou por seu gabinete para deixar uma sacola. Continha € 600 mil, cerca de US$ 814 mil. Outros fabricantes de armamentos apareceram também, alguns se oferecendo para guiá-lo pelos meandros do sistema financeiro internacional e o recompensando com depósitos em contas no exterior.
Na época, Kantas, um ex-oficial militar, não tinha autoridade para decidir muita coisa por conta própria. Mas a corrupção era tão disseminada dentro do Ministério da Defesa que mesmo um homem com uma posição modesta como a sua, segundo um depoimento recente dele, foi capaz de acumular quase US$ 19 milhões em apenas cinco anos no cargo.
Os gregos estão calejados de tanto ouvir histórias de corrupção. Mas, mesmo assim, ficaram paralisados diante das confissões de Kantas desde sua recente prisão por acusações que incluem lavagem de dinheiro e comportamento prejudicial à nação.
Nunca antes um alto funcionário tinha exposto tão amplamente o sistema de compensações oferecidas por serviços dentro de um ministério grego. Kantas disse aos promotores que havia recebido tantos subornos que não era possível lembrar os detalhes.
A confissão de Kantas, estimulada por sua esperança de que obteria maior indulgência da Justiça se contasse tudo, com base em uma nova lei, fez com que muitos gregos ficassem esperançosos de que finalmente testemunhariam o começo do fim da corrupção ilimitada que contribuiu para mergulhar a Grécia em sua crise atual.
No entanto, à medida que os detalhes emergem, o caso alimenta uma indignação ainda maior, especialmente em relação à Alemanha, que repreendeu a Grécia pelo caos financeiro em que se encontra. O depoimento de Kantas, se verídico, mostra como fabricantes de armas da Alemanha, França, Suécia e Rússia entregavam propinas para vender ao governo armamentos que o país mal tinha condições de pagar e que, dizem especialistas, em muitos casos estavam superfaturados e abaixo do padrão de qualidade.
Os € 600 mil compraram o silêncio de Kantas sobre os tanques, que foram classificados como de pouco valor, de acordo com Constantinos Fraggos, especialista em questões militares gregas. A Grécia adquiriu 170 desses tanques por cerca de US$ 2,3 bilhões.
Contribuindo para o absurdo dessa aquisição (feita quase totalmente a crédito), o ministério não comprou praticamente nenhuma munição para as armas, disse Fraggos. Adquiriu ainda aviões de combate sem sistemas de orientação e pagou mais de US$ 4 bilhões por submarinos que hoje estão praticamente abandonados. No auge da crise, quando não estava claro se a Grécia seria expelida da zona do euro, e bem antes de os submarinos terem sido concluídos, o Parlamento grego aprovou um pagamento final de US$ 407 milhões pelos submarinos alemães.
"Em primeiro lugar, você tem de culpar o sistema podre da Grécia", disse Fraggos. "Mas os vendedores têm grande parte nisso. Eles subornavam autoridades e emprestavam dinheiro para um país quase falido, para assim poderem vender seus produtos."
Na esteira do primeiro depoimento de Kantas, em dezembro, promotores efetuaram mais prisões, incluindo a de um subempreiteiro no negócio do submarino alemão, que forneceu à Justiça detalhes de contas que usou para transferir cerca de US$ 95 milhões em pagamentos "úteis".
Algumas empresas citadas por Kantas haviam sido condenadas em outros casos de suborno. Mas outras alegam que não fizeram nada de errado. A Krauss-Maffei Wegmann, fabricante dos tanques, diz estar examinando o caso.
Mas a polícia acredita que Kantas sabe mais e pode ter mais dinheiro guardado. "Ele não nos falou nada que já não soubéssemos", disse um investigador. "Ele tem de nos contar o resto."