quinta-feira, 3 de julho de 2014

Copa do Mundo - Emaranhado das redes - PAULA CESARINO COSTA


RIO DE JANEIRO - As redes nos gramados balançaram aqui como não se via há muito tempo. A alegria nos estádios e nas ruas, mesmo que com provocações às vezes destemperadas, é outro gol simbólico. Mas há na Copa do Mundo de futebol alguns emaranhados preocupantes --uns por interesses financeiros, outros por interesses escusos.
A Fifa fez quase tudo o que quis por aqui. Conseguiu que fosse aprovada a abusiva Lei Geral da Copa. Pressionou, por exemplo, pela revogação do veto ao consumo de álcool nos estádios, como prevê o Estatuto do Torcedor. Pensava só nos contratos de patrocínio. Agora, cogita proibir o álcool por temer violência. Não havia pensado nisso antes?
Na Copa de 2010, a Fifa faturou US$ 2,4 bilhões com a comercialização de direitos de transmissão e cerca de US$ 300 milhões com a venda de ingressos. Na de 2014 deve bater recordes de faturamento e de pedidos de ingressos, mais de 11 milhões. Não se viu por aqui estádios vazios, como aconteceu na Copa da África do Sul e na do Japão/Coreia. O país do futebol faz festa em qualquer jogo.
Dinheiro chama dinheiro --e também desviadores de dinheiro. Nesta semana, a prisão da quadrilha com um esquema profissional de venda ilegal de ingressos mostra a dimensão internacional e perene da máfia. Pululam suspeitas sobre integrantes da Fifa, de confederações, amigos de jogadores e ex-jogadores, alguns até campeões mundiais pelo Brasil.
O episódio de aviões cheios de dinheiro enviados às seleções de Gana e da Nigéria colaborou para interpretações pouco esportivas, como a venda de resultados ou o pagamento pela expulsão de atletas.
Quase tudo é superlativo na Copa no Brasil. Se tem sido lenitivo o balançar das redes, é aflitivo e preocupante o movimento das redes do submundo. Sem controle e pouco investigadas, misturam bola, interesses escusos e dinheiro sujo. Folha 03.07.2014.