terça-feira, 8 de abril de 2014

EUA rastreiam dinheiro do narcotráfico

Por RANDAL C. ARCHIBOLD
TLAJOMULCO, México - Os EUA estão no encalço de Hugo Cuéllar Hurtado. Ele trabalha com um dos homens supostamente à frente do maior cartel de drogas do México, cujo líder, Joaquín Guzmán Loera, foi capturado em fevereiro.
Porém, enquanto Guzmán -conhecido como El Chapo- passou 13 anos foragido, Cuéllar circula livremente em Guadalajara, participando de almoços e cortejando diplomatas.
Ele diz que até ganhou uma subvenção do governo para sua criação de avestruzes nos arredores da cidade. "Que venham me investigar", disse ele em seu sítio de 23 hectares, que o Departamento do Tesouro dos EUA apontou como fachada para a lavagem de dinheiro do cartel de Sinaloa, chefiado por Guzmán. "Não tenho nada a esconder."
Prender o líder do cartel foi um desafio que durou 13 anos e que pediu ampla cooperação entre autoridades mexicanas e americanas. Porém, poderá ser igualmente árduo desmantelar o esquema financeiro que acoberta o dinheiro do cartel de Sinaloa, avaliado em bilhões de dólares.
Muitas pessoas e empresas suspeitas de integrarem o amplo esquema de lavagem de dinheiro do cartel continuam na ativa, embora pareçam estar, como o próprio Cuéllar, na lista do governo americano de membros do cartel e de seus cúmplices.
A cooperação bilateral que levou à captura de Guzmán é frequentemente rompida quando se trata de desmantelar as finanças do cartel. As autoridades americanas dizem identificar suspeitos com base em informações secretas fornecidas por agentes antidrogas, da alfândega ou da imigração, mas há poucos esforços subsequentes no México para investigar negócios obscuros e seus proprietários.
"Isso não é prioridade por lá", comentou Alonzo Peña, ex-vice-diretor da Polícia de Imigração e Alfândega. "Os EUA demoraram muito para se concentrar no dinheiro. Por muito tempo, seu foco era só nas drogas.", acrescentou ele, mas o "México está um tanto atrasado e continua mais de olho nas drogas do que no dinheiro."
O México promulgou novas leis para combater a lavagem de dinheiro, mas uma alta autoridade mexicana disse que as provas apresentadas pelos EUA não têm a consistência que permitiria o confisco de propriedades ou detenções sob a lei mexicana.
"Uma coisa é acusar. Outra é apresentar provas", disse, sob a condição de anonimato. Poucas pessoas foram presas ou tiveram seus negócios fechados em consequência das sanções americanas. Segundo analistas, as sanções funcionam mais no sentido de complicar as movimentações financeiras dos narcotraficantes, proibindo bancos, empresas e cidadãos americanos de fazerem negócios com pessoas sob suspeita.
Guadalajara e Culiacán, a capital do Estado de Sinaloa, situadas em polos agrícolas ao longo de rotas de drogas, são lugares onde supostamente Guzmán esconde seu dinheiro. "A cidade se mantém com o dinheiro do narcotráfico", disse Javier Valdez Cárdenas, fundador do jornal "Ríodoce" em Culiacán. "A quantidade de bistrôs, restaurantes, spas, shopping centers, revendedoras de carros de luxo e condomínios não condiz com o nível de vida das pessoas comuns em Sinaloa e evidencia a forte presença dos traficantes."
A alta autoridade mexicana citada anteriormente se recusou a comentar o caso de Cuéllar e se o patrimônio dele está sob investigação. Não se sabe se há acusações criminais contra Cuéllar no México ou nos EUA.
Cinco dias após a captura de Guzmán, Cuéllar foi incluído na lista de sanções como parte do que as autoridades americanas chamam de esforço renovado para desmantelar o cartel. Cuéllar queixou-se de que agora poderá perder clientes americanos e talvez alguns mexicanos.
Cinco parentes de Cuéllar também enfrentam sanções do Fisco, incluindo um filho, John Fredy Cuéllar, e uma nora, Gabriela Amarillas López. Amarillas é filha do subsecretário de Finanças do Estado de Sinaloa, Gildardo Amarillas López, que negou ter ligações com o tráfico de drogas.
Segundo Cuéllar, se seu sítio for afetado pelas sanções americanas, provavelmente ele o venderá e fará outra coisa -o que demonstra a limitação das sanções. Ele disse que já está pensando em se desfazer de alguns bens. "Acho que terei de achar outro negócio."
NYT, 08.04.2014
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